Aproveito o 13ª Arte para partilhar com vocês uma crítica à situação da Música em Portugal, e a falta de divulgação desta. Apesar de não ser habitual aqui no 13ª Arte divulgar opiniões, o tema desta "crónica" está de todo relacionado com o objectivo deste Blog: Dar a conhecer a música que se faz em Portugal para além das vozes das rádios e das MTV's.
Eis a opinião de um amigo meu, que foi também publicada no fórum da Blitz:
"Sempre me perguntei porque é que muita da música portuguesa não é tão falada em Portugal como a maior parte dos grupos estrangeiros. Porque é que certas bandas excelentes não são tão faladas entre a maioria das pessoas e porque é que outras são desprezadas logo à partida por os ouvintes. Acho que finalmente percebi, e está tudo relacionado.
Passo a explicar: a música estrangeira é bastante divulgada aqui neste pequeno canto do mundo, sobretudo quando se trata das grandes estrelas pop. Se, por exemplo, a Madonna lança um novo álbum até aparece em todos os jornais de todos os canais de televisão, 3 vezes por dia durante pelo menos 2 dias. Mas quando se trata de promover novas bandas portuguesas, a menos que elas "se vendam" na televisão, só aparecem em revistas musicais (e ainda assim nem em todas) e uma ou duas rádios. Assim, como nem toda a gente compra revistas musicais (provavelmente nem 0,2% da população) e quase todos (os que ouvem rádio) ouvem rádios que promovem apenas aquelas músicas que são sempre grandes hits.
Outra coisa que ajuda o problema é que as bandas são muitas vezes postas de parte apenas por serem de um determinado país ou género musical. Se não cantam em inglês, só se safam se estiverem virados para o hip-hop. Nem é preciso ir muito longe para encontrar um país onde não é preciso cantar em inglês para se ter o mérito que se merece. Em Espanha muitos dos intérpretes mais falados, ouvidos e conhecidos cantam em castelhano. ´
E depois há sempre a ignorância alheia. Por exemplo, há pessoas que se lhes perguntarmos "Gostas de grunge do princípio da década de 90?" respondem "Claro que não, isso é só barulho!" mas se lhes perguntamos "Gostas de Nirvana?" já têm uma resposta mais simpática a dar "Claro que gosto. Adoro os Nirvana. São das melhores bandas que eu já ouvi até hoje. Tocam tão bem!"...
Isto faz-me lembrar uma coisa que se passou comigo há uns dias: estava eu muito bem a ouvir música e um amigo meu pede-me o meu leitor de mp3 emprestado (eu não sou grande fã da música digital, mas não posso levar a aparelhagem para todo o lado). Eu disse-lhe que não havia problema e emprestei-lho. Passado um bocado perguntei-lhe o que estava a ouvir."Red Hot Chili Peppers." foi a resposta dele. Um pouco depois repeti a pergunta e ele também repetiu a resposta. Isto repetiu-se mais umas 10 vezes até ele me devolver o leitor. Então eu perguntei-lhe porque é que ele não tinha ouvido outra coisa qualquer. Ele repondeu-me mais ou menos isto "Sem ser os Red Hot só lá tens Metallica, Metallica e Metallica. É só barulho.". Nada de estranho, pois uma pessoa tem direito a não gostar de certos géneros musicais. O que é desprezivel é o facto de eu lá ter à volta de 100 músicas, entre as quais três de Metallica. Em termos de artistas, ia desde Bob Marley até aos Rammstein, passando pelos Queen, e ainda The Strokes, The Hives, e outras. Tinha lá Heavy Metal, Reggae, Rock, Hard Rock, Progressive Metal e talvez mais dois ou três géneros musicais.
Passados uns dias perguntei-lhe se ele não gostava de Queen e ele disse-me que adorava. Para quem não tiver compreendido, passo a explicar o que quero dizer: ele pura e simplesmente ficou-se pelo que sabia que gostava e nem sequer tentou experimentar outra coisa. E como é que isto está relacionado com o resto? Muito simples: este é o grande problema que surge na divulgação das bandas e dos diversos géneros musicais, pois a menos que as pessoas já as conheçam ou lhes sejam chapados na cara, elas vão continuar a ignorá-los, pois não estão com paciência para testar novas sensações, mesmo que isso implique estarem constantemente a ouvir a mesma coisa vezes e vezes sem conta.
Por último, a falta de paciência da população em geral conduz ainda a outro problema: nem todas as músicas soam imediatamente bem no ouvido, especialmente quando se está com pressa e se quer música apenas para não ter que se aturar o som ambiente (que muitas vezes até merece ser escutado) ou para ter um ritmo ou um som de fundo. Já se for para levar a música a sério, como se fosse uma arte (que apenas por mero acaso até é), ninguém quer dispensar 4 minutos para ouvir uma música de alguém que não conhece, quanto mais uma hora ou mais para descobrir novos álbuns, géneros e bandas. Muitas vezes preferem ficar por música "plástica" (se uma é rock e outra metal, porque não) que é mais fácil de aturar porque já se conhece e não requer tanto da nossa atenção, pois na minha opinião há até algumas que não a merecem."
Assim, fico à espera que esta situação mude, para bem da Música, de quem
gosta dela e de todos os que com ela estão relacionados.