News: Rolling Stones em Alvalade
Falar dos Rolling Stones é falar invariavelmente de longevidade. E apesar de algumas críticas ela é motivo de reverência e de sustentação do epíteto de maior banda de rock do mundo.
O espectáculo condiz com o estatuto, dispensando explicações exaustivas, até porque é conhecida a grande produção que tem envolvido as actuações do colectivo. Isso mesmo viu esta noite o Estádio de Alvalade, em Lisboa, que recebeu o pela última vez há 12 anos, como recordaria Mick Jagger no seu português esforçado. A Bigger Bang Tour foi o pretexto para o regresso à capital e fez-se anunciar logo num cenário de big-bang urbano, secundado pelo fogo de artifício que se elevava da parte lateral da estrutura do palco.
O efeito apanhou de supresa o público que aguardava a banda na penumbra, depois de uma espera ansiosa. E foi curioso ver como a massa humana se condensou, iludindo os prognósticos pouco animadores das vendas de ingressos. 'Start Me Up' deu, então, o arranque com a conhecida energia dos Rolling Stones: Keith Richards à cabeça introduzindo com guitarra vigorosa os primeiros acordes, Mick Jagger assumindo o comando em frenesim e Ronnie Wood chegando depois e dando um "solozinho" da sua graça.
Mais atrás no palco, pela condição menos móvel imposta pela bateria, Charlie Watts. Sem supresas coube quase sempre a Mick Jagger assumir o comando do espectáculo, sobretudo pela energia contagiante com que puxava pela assistência, ora bamboleando as ancas e as pernas e sacudindo o tronco nos seus já tradicionais movimentos, ora percorrendo o palco (que ocupava a largura do relvado) de uma ponta à outra.
'You Got Me Rocking', outro dos temas que deu seguimento à festa do rock'n roll, assim o confirmava, com os guitarristas em despique saudável, patilhando a execução instrumental e em sintonia com a banda de suporte onde se destacaram as prestações do baixista e de Bobby Keys, um dos saxofonistas presentes. Tim Ries, que actua Quarta-feira no S.Jorge com Ana Moura passou mais despercebido.
Já a fadista foi a surpresa da noite, convidada a partilhar, em dueto com Mick Jagger, o tema 'No Expectations', num tom mais acústico. O «flavour» português que o cantor dos Stones quis dar ao concerto poderia ter sido um dos pontos altos do concerto, mas o som excessivamente alto acabou por quebrar a aura do encontro intercultural e deixar ficar apenas o orgulho nacional pela representação portuguesa.
De volta ao feixe enérgico do rock Ronnie Wood protagonizou um dos melhores momentos instrumentais da noite finalizando a música que precedeu a homenagem a James Brown, falecido no final do ano passado. 'I'll Go Crazy' foi o tema escolhido por Mick Jagger que à falta do potento das vozes negras da soul se fez acompanhar brilhantemente por Lisa Fisher, uma das cantoras do coro.
Também na voz houve lugar para o protagonismo de Keith Richards, em 'You've Got The Silver', em tons de country, e 'I Wanna Hold You', já com as guitarras eléctricas. Com o regresso de Mick Jagger ao posto de vocalista, o grupo mostrou que não é preciso o aparato cénico para ainda se fazer valer e desprendeu-se da plataforma do palco principal para percorrer noutro, mais pequeno, a passadeira montada a meio do relvado.
Bem a propósito, 'It's Only Rock'n Roll' fez a passagem para 'Satisfation' já no meio da assistência, em êxtase. Na estrutura principal os lábios vermelhos com a língua de fora foram ocupando a tela central onde antes tinham passado em grande plano as imagens dos membros da banda. Sol de pouca dura que deu lugar a projecções psicadélicas vermelho vivo e aos assobios uivados com que o público antecipou um 'Sympathy for the Devil' cercado por labaredas. Mesmo com a qualidade do som longe do seu melhor e a voz de Jagger a entrar por vezes fora de tempo, é inegável a pujança dos Stones ao vivo. E 'Brown Sugar' no encore não foi doce o suficiente para o final.
(Texto de Ana Tomás)