primeira pessoa | jrebola dos the cynicals
O 13ª Arte bateu à porta de José Rebola, guitarrista dos já afamados coimbrões The Cynicals, Banda do Mês por escolha do público aqui no 13ª Arte. Diz que venceram o XII Festival de Corroios, diz que actuaram no Madrid Pop Festival 2007, diz que deram um espectáculo na Queima das Fitas e diz muita coisa boa sobre esta banda que conta sempre com a elegância como arma e o cu como horizonte. De EP quase a estibordo, concertos na costa e temas disponíveis no MySpace já a surfar na net, vamos falar com JRebola:
David Akired: Para começar, como apresentariam a música dos The Cynicals aos que lêem esta entrevista e aos que, à partida, ainda não vos conhecem?
JRebola: Antes de mais, deixa-me dar-te os parabéns pelo teu blog que revela muito bom gosto e tem um papel muito importante na divulgação da nova música (boa) que se faz em Portugal. Acima de tudo, quando falamos em The Cynicals não podemos falar só em música… the Cynicals é toda uma atitude e uma performance, e, mais do que uma banda, acaba por se transformar num conceito e num modo de estar. Provocação, elegância, crítica, suor, paixão, ironia e audácia são provavelmente as palavras que melhor caracterizam a banda, e só se tem a noção disto depois de assistir a um espectáculo ao vivo. Quanto ao som, é tão variado que o melhor é não descrever e simplesmente ouvir, mas julgo que talvez nos possamos definir como “punk-cabaret”, se quiserem mesmo dar-nos um rótulo.
DA: Dizem os rumores que um EP está em estúdio… Que pormenores podes adiantar aos mais curiosos?
DA: E o processo de gravação? Optam por uma gravação livre, espontânea e despreocupada ou preferem um registo com mais profissionalismo, mais difícil que “dar à luz”?
JR: Eu nunca dei à luz, e espero que a genética não avance tanto que o tenha de vir a fazer. Mas sim, parece-me um paralelo interessante. Não há nada de despreocupado na nossa gravação, todos os pormenores nos merecem a maior atenção e cuidado, bem como a qualidade musical e de execução, pelo que é um processo no qual estamos fortemente empenhados.
DA: Houve algo que me despertou a atenção quando ouvi falar da vossa banda pela primeira vez: o nome. Porquê The Cynicals?
JR: É como te disse, tem a ver com a atitude. Se tu queres marcar uma posição no que fazes e no que dizes, se não queres ser mais uma cambada de modelos de casting amestrados e tens realmente uma abordagem nova para apresentar, essa abordagem tem de começar pelo nome. Dizemos coisas sérias dissimuladamente, e com segundas intenções, daí que o nome seja perfeitamente justificado.
DA: Porquê Rock Britânico, se assim se pode chamar? Juntaram-se, pegaram nas guitarras e no baixo e foi o que saiu, ou já tinham essa expectativa?
JR: Já havia uma expectativa, sabíamos o que queríamos fazer, mas é óbvio que depois de irmos para a estrada e de trabalharmos os temas ao pormenor a sonoridade evolui connosco e vai correspondendo melhor ao que pretendemos realmente transmitir. Disseste rock britânico mas talvez devêssemos dizer rock europeu, um rock mais adulto e menos óbvio. A nossa postura e raiz cultural é europeia, e não faz grande sentido estarmos a mimetizar outras culturas, porque dificilmente as vamos espelhar da maneira que elas realmente são.
DA: Hum… Os elementos da vossa banda já estavam um pouco espalhados em bandas como F.E.V.E.R., Fireball, The Speeding Bullets e etc. De início o projecto The Cynicals era mais um passatempo ou era uma etapa já definida como um projecto sério? Estavam à espera de tanto reconhecimento?
JR: Estávamos, e esperamos mais. The Cynicals é um projecto sério e ambicioso, e em quase todos os membros da banda já passou o período de fazer musica só por hobby. Há passos importantes a dar, degraus a subir, e queremos subi-los sem medo de o dizer. Queremos ser maiores e melhores, e não acho que isso seja criticável e também não acho que nos impeça de nos divertirmos no processo. Ambição não pode ser confundida com arrogância, e a seriedade não pode entrar em conflito com o bom ambiente.
DA: Os The Cynicals são bastante elogiados nas suas actuações ao vivo, chegando a mostrar uma espécie energia compulsiva e sentido épico. O que sente a banda ao subir o palco? De que falam e o que pensam no backstage (quando existe…)?
JR: No palco há uma empatia muito grande entre nós todos e o público, surge uma sinergia que nos envolve a todos e transformam cada performance num momento especial. Não damos dois concertos iguais, porque não há nem deve haver duas interpretações iguais. Tem de ser assim quando há paixão e a queremos transmitir a quem nos ouve. Essa sinergia foi provavelmente o que nos valeu a vitória nos concursos que temos ganho.
DA: Pelo que pude constatar, dão destaque no vosso MySpace a temas como Emily Rose, On Sundays, Happy Together (cover dos Beatles) e I Didn’t Kill Rock n’ Roll. Qual destes pode servir aos visitantes de “cartão-de-visita”?
JR: O melhor cartão de visita é um concerto. Essas quatro musicas (o Happy Together é um cover) mostram aspectos muito diversos do que podemos fazer, mas só num concerto se pode ver o que fazemos, pelo que o meu conselho é: esqueçam o cartão e venham directamente visitar a empresa.
DA: Sei também que já tiveram experiências no estrangeiro. Como foi a experiência de apresentarem a vossa música a um público dissemelhante do português? Qual foi a reacção do público?
JR: Pior do que ser no estrangeiro, é ser em Espanha, pelo simples facto de ser uma cultura bastante fechada a bandas que cantam em inglês. Por isso surpreendeu um pouco a excelente aceitação que tivemos, com o ponto alto a ser o momento de flamenco que temos numa das músicas, o que os deixou bastante agradados e ao rubro. Agora, temos mais uns planos lá por fora e é claro que a internacionalização é uma das metas da banda. Quer se queira quer não, Portugal ainda é uma migalha no mundo da musica..
DA: Como atentos e ávidos consumidores de música (como suponho que sejam), que lançamentos actuais vos despertam maior interesse (tanto no espectro nacional como internacional)?
JR: Bom, só posso falar por mim, mas digo-te já que há uma grande diversidade musical na banda. Fazemos rock, sim, mas ouvimos de tudo. No meu caso, a nível nacional tenho gostado muito de Viviane, Sal, Feromona, Nuno prata, Bunnyranch, e lá por fora Gogol Bordello, Superbus, Katerine e muitos outros…
DA: Voltando ao assunto da sonoridade, no vosso MySpace dizem “None. We hate everything.” no campo das influências musicais. Isso é verdade ou “não é bem assim”? Podes dizer a verdade… ;)
JR: Claro que é uma metáfora… Se não fosse toda a história da musica do nosso século e do século passado, não dizíamos o que dizemos, não soávamos como soamos e nem pensávamos como pensamos. Tudo o que é música bem feita e com mensagem, quando se ouve, deixa uma marca. Na sonoridade e na personalidade. Mas o que queremos realçar é que não há uma escravidão nem uma tentativa de colagem a nenhum nome em particular.
DA: Como disseste atrás, Portugal ainda é uma migalha no mundo da música. Como descrevem a situação actual (lastimável, ou nem tanto, a meu ver) do panorama musical português?
JR: Não a acho tão lastimável assim, se a comparares com há dez anos atrás. Começa a haver um interesse na boa musica que se faz, e quem quiser levar avante as suas iniciativas hoje em dia pode consegui-lo. Estão a surgir muitos estúdios e editoras, pode-se lançar um álbum sem muitos custos, e divulgá-lo de forma também bastante fácil e eficaz. Para isso tenho que realçar o tremendo papel da Internet para quem faz e para quem gosta de música. E assim sendo, o que for bom e bem feito sempre terá reconhecimento, porque o publico começa a vir ao encontro das bandas quase tanto como as bandas ao encontro do público. A minha crítica é simplesmente haver poucas salas de espectáculos com condições.
DA: Para concluir, o que diriam a quem pegasse no vosso CD e o colocasse pela primeira vez na aparelhagem?
JR: A parte cinzenta é para baixo. [Risos]
DA: Bem, chegámos ao fim. Agora só tenho a agradecer imenso a tua colaboração e paciência para esta entrevista. Boa sorte para a banda, obrigado e até breve!
JR: Obrigado!
Esta entrevista foi dada em exclusivo para o 13ª Arte. MySpace dos The Cynicals: www.myspace.com/somuchadoaboutnothing.
Boas Audições!