News: Oeiras Alive!07 dia 8
Foi um começo auspicioso para o Oeiras Alive! 07 – na primeira noite do novo evento musical da Grande Lisboa, o Passeio Marítimo de Algés acolheu vários concertos bem recebidos pelas dezenas de milhares de espectadores que acorreram ao local. Os cabeças de cartaz Linkin Park e Pearl Jam motivaram as maiores enchentes, mas a partir das 20h00, ou seja, do concerto dos Blasted Mechanism em diante, já era complicado circular frente ao palco principal.Com gravilha e areia a servir de pavimento, o espaço do Oeiras Alive divide-se em dois espaços dedicados a concertos (entre ambos vai uma distância de música, música e meia), zona de restauração (com filas proibitivas nas horas de maior aperto estomacal), WCs, tendas de artesanato e algumas instalações artísticas, fazendo (modesto) jus à ideia multidisciplinar do evento. O som esteve à altura do exigido, não comprometendo qualquer dos concertos principais, e o maior problema “logístico” parece ter passado pelo estacionamento, com muitos dos espectadores a terem de deixar a viatura para lá da Torre de Belém.
Quanto aos concertos, não é fácil encontrar um vencedor incontestado para a primeira noite. Aos Blasted Mechanism, a primeira banda grande a subir ao palco principal, coube aquecer o público e provar como o ambiente “live” continua a ser o catalizador perfeito para a música frique e mutante de Sound In Light . O mais recente trabalho do grupo esteve, de resto, em destaque: logo a abrir, o excelente «Battle of Tribes» evidenciou a faceta étnica dos portugueses. O som nítido que os serviu permitiu que, no meio do transe dançante e catártico, a plateia escutasse com pormenor o contributo das percussões e das cordas na poderosa máquina de palco da banda. «Are U Ready?», «Blasted Empire», «Sun Goes Down» e «All the Way» conduziram o concerto em crescendo até à inevitável – e trepidante - «Nadabrovitchka». Tal como em disco, a entrega é indiscutível. Quem está com a banda – e muitos foram os que a saudaram, quer em palco quer na descida dos músicos à plateia – só pode agradecer a comunhão.
Empatia entre público e banda não faltou, também, no concerto dos Linkin Park. Quem tenha pensado que a popularidade dos norte-americanos sairia sacrificada com o ocaso do nu-metal, equivocou-se. Em Oeiras, os autores de «Numb» foram recebidos em braços (literalmente: havia quem tivesse o nome da banda escrito nos membros superiores, ou t-shirts a avisar «eu vim ver LP»). Os fiéis criaram o ambiente ideal para um espectáculo emocional, no qual temas como «Somewhere I Belong», «From The Inside», «Crawling» ou, já no encore, «Faint» foram entoados a uma só voz. Encantados com a recepção, e nitidamente em altura de fazer contas à vida, os Linkin Park foram verdadeiros campeões dos agradecimentos, frisando vezes sem conta a importância do apoio dos fãs nos melhores – e nos piores – momentos.
Empoleiradas nos monitores de palco, as figuras de proa da banda assumiam uma postura quase de heróis da classe operária – do seu género musical, claro. Com Chester Bennington a contorcer-se em cada lamúria gritada e Mike Shinoda a estabelecer a comunicação com os admiradores, sempre com humildade, houve tempo para tudo – até para momentos mais introspectivos e melancólicos, com o sintetizador em primeiro plano.
Se os Linkin Park foram operários fabris na noite de ontem, os Pearl Jam, e muito especialmente Eddie Vedder, vestiram a pele de pai de família. De volta a Portugal menos de um ano após o último concerto por cá, a banda trouxe um alinhamento de best of e muito boa disposição. Vedder foi-se progressivamente libertando e acabou a ler vários pequenos discursos em português, enquanto bebia e fumava. A sequência «Corduroy», «Do the Evolution» e «Worldwide Suicide» serviu de arranque sôfrego ao concerto, mas os melhores momentos surgiriam mais à frente, à medida que o espectáculo ganhava corpo e calor.
«Elderly Woman Behind the Counter at a Small Town», «State of Love and Trust» ou «Even Flow», provavelmente tocada pela milionésima vez mas ainda sem enfado, serviram de prova ao equilíbrio que os Pearl Jam lograram alcançar: o de continuar a ser uma banda de culto, ao mesmo tempo que se tornam “seguros”, institucionais, apelando a uma larga variedade de melómanos e gerações.
Ao longo de duas horas, o “velho amigo” Eddie Vedder dedicou músicas a bebés («Given To Fly») e aos surfistas portugueses («Big Wave»), falou das raízes lusas do teclista havaiano e dirigiu um (escusado) «que se foda» a Madrid, onde tocará hoje. A pose que ficará para a história, deste concerto, será a do cantor de braços cruzados sobre o peito, em forma de reconhecimento. Quanto ao som, apesar do final com «Black», «Keep On Rocking In A Free World» e «Yellow Ledbetter», suspeitamos que o karaoke colectivo de «Better Man» fará as delícias dos coleccionadores de gravações pirata.Ao final da tarde, os americanos The Used conquistaram o público com persistência (o vocalista Bert McCracken incentivou sucessivamente os fãs, quase sempre com a palavra “fuck” e derivados) e várias amostras dos seus três álbuns. Dignos representantes do punk-rock chorão, os autores de Lies for the Liars por pouco não terão borrado o eyeliner, ao ouvir as suas letras serem entoadas com convicção por muitos dos presentes. «On My Own», «Pretty Handsome Awkward» e «Hospital» foram alguns dos momentos de maior partilha.
No palco secundário, a tarde abriu com os Oioai, cujas canções sem grandes requintes ou pormenores convenceram uma tenda quase cheia; Tiago Bettencourt, dos Toranja, ajudou em «E Agora o que É que Eu Vou Fazer». Já os Loto pareceram divertir-se mais do que o respectivo público, pouco receptivo aos convites para pular e dançar. «Celebration», «Back to Discos» ou «We Are», parecendo que não, já ajudam a compor uma setlist bem decente.
À noite, os ingleses The Rakes mostraram filiação na vaga pós-punk, arrancando a melhor reacção com «22 Grand Job», ao passo que os The Sounds se estrearam em Portugal com garra e alguma má sorte. Os suecos debateram-se com alguns problemas sonoros - que levaram a vocalista Maja Ivarsson ao desespero -, mas não deixaram de apresentar um cardápio suculento baseado em canções dos seus dois álbuns de originais. A abertura deu-se com «Living In America» (o single que os deu a conhecer) e, com o turbo ligado, o grupo atirou-se às frenéticas «Song With a Mission», «Dance With Me», «Queen of Apology» e «Painted By Numbers». Maja Ivarsson apresentou-se com o costumeiro casaco de cabedal e uns curtos calções de ganga, experimentando aqui e ali algumas poses mais ousadas.
O Oeiras Alive! 07 prossegue hoje, 9 de Junho, com actuações de Smashing Pumpkins, White Stripes e The Go! Team, entre outros.
(Texto de Lia Pereira)