primeira pessoa | the guys from the caravan
O 13ªarte bateu à porta de Bruno Vasconcelos, guitarrista e vocalista dos The Guys From The Caravan. Ainda a descobrir horizontes por este Portugal fora, estes rapazes já têm uma demo gravada, preparam um álbum de originais e concertos é do melhor que há. Temas da demo estão disponíveis no MySpace, o resto é conversa:
David Akired: Para começar, como apresentariam a música dos The Guys From The Caravan aos que lêem esta entrevista e aos que, à partida, ainda não vos conhecem?
Bruno Vasconcelos: Em nome do resto da banda, queria agradecer-te o convite! A música dos The Guys… é, para começar algo que fazemos com muito diversão, sinceridade, entrega e mesmo amor pela música! Quem ouve, insere-nos dentro do rock e do folk… e de certa maneira sentimos que são os estilos por onde nos queremos movimentar. Seja pelo desafio, seja pelas nossas referências ou mesmo porque temos bem presente a sonoridade que tentamos alcançar. Tentamos falar de sentimentos, muitos sentimentos, nas nossas músicas. Falamos de amores puros, impuros, desgraças alheias, paixões fulminantes, viagens que correm mal, mas sempre com um sorriso nos acordes e tentamos transmitir um ambiente positivo. É fundamental dizer que estamos num constante processo de construção e de aprendizagem na aplicação das cores que queremos colocar na nossa música.
DA: Começando pelos registos discográficos, já lançaram uma demo com os 4 temas do vosso MySpace e dizem também os rumores que um álbum está a chegar… Que pormenores podes revelar ao público?
BV: A demo com os temas que estão no MySpace… não se pode bem dizer que tenham sido lançados, o que na verdade fizemos foi a preparação de um nº muito limitado de cópias promocionais para tentarmos arranjar alguns concertos para juntar algum capital para pagar as despesas diárias que temos com a caravana e para podermos andar por aí um pouco mais desafogados. O que vai acontecer para muito breve (dias) é o lançamento da demo pela netlabel Rasarte. Isto é, os temas irão ser disponibilizados gratuitamente no site da Rasarte para quem quiser tirar os temas todos, ou alguns, e o artwork que foi mais uma vez feito pelo Daniel Barradas (autor das nossas ilustrações). O que tem de diferente em relação ao MySpace é a qualidade das faixas que foram remisturadas e masterizadas. Depois disto, temos já agendada a gravação do nosso álbum para a segunda quinzena de Agosto mas ainda sem planos de saída. Será produzida pelo Flak e estamos muito curiosos para gravar os temas que até agora ainda só puderam ser ouvidos ao vivo.
DA: E o processo de gravação? Optam por uma gravação livre, espontânea e despreocupada ou preferem um registo com mais profissionalismo, daqueles mais difíceis de gravar do que “dar à luz”?
BV: A primeira gravação (a demo) foi claramente espontânea, despreocupada e sem profissionalismo! Gravamos tudo em casa com baterias sequenciadas e com muita paciência. Divertimo-nos bastante em todo o processo porque não sabíamos mesmo bem o que estávamos a fazer. Chegamos à conclusão que com material bastante foleiro podemos fazer coisas bastante foleiras mas que na verdade até nos agradam! Depois o tema The Guy from the Caravan foi o único que tentamos gravar a bateria real e foi uma comédia… basicamente não tivemos escuta, pusemos os 4 micros na bateria e rezamos para que a coisa ficasse minimamente decente. O álbum que vamos gravar em Agosto, queremos manter a espontaneidade e a despreocupação mas aumentar o nível de profissionalismo. Daí a nossa ideia de chatear o Flak que felizmente aceitou o desafio.
DA: Como acontece várias vezes, houve algo que me despertou a atenção quando ouvi falar da vossa banda pela primeira vez: o nome. Porquê The Guys From The Caravan?
BV: Para não falar no facto de ser o título de um dos nossos temas e que tem uma história particular, é importante o facto de ser um nome que sugere viagem e itinerância.
DA: O vosso estilo é muito pouco comum e chega a ter uma sonoridade original, bem ao estilo do easy-listening. Porquê esta mistura de Folk com Pop e Rock Britânico, se assim se pode chamar? Juntaram-se, pegaram nas guitarras e no baixo e foi o que saiu, ou já tinham essa expectativa?
BV: Não tínhamos expectativas… tínhamos as nossas influências e tínhamos uma enorme vontade de escrever e de compor.
DA: É então assim que definem o vosso termo Rocklore…
BV: Nós brincamos com as palavras e num dos momentos de delírio e de diarreia mental apareceu essa expressão… não sei se já existe ou se já foi aplicada publicamente noutras situações, mas achamos piada e usamos o Rocklore para definir o nosso som na nossa biografia. Mas são piadinhas…
DA: O projecto “The Guys From The Caravan” está a ter um reconhecimento excelente por parte do público mais atento às maravilhas da Internet, e não só. A banda era já estipulada como sendo um projecto sério, para levar avante, ou era apenas mais um passatempo?
BV: Como qualquer banda que está nos primeiros passos ainda temos bastante presente um elevado nível de incerteza acerca de como será a próxima actuação, de como vai ser o feedback do público ou simplesmente se a coisa vai correr bem tecnicamente! Ainda temos pouca rodagem, nem sempre as coisas correm como queremos, ainda assim temos tido boas críticas (nem que seja o pezinho a bater, a cabeça a abanar ou um sorriso numa determinada parte da música) porque basicamente é isto que queremos com a nossa música: causar reacções. Como é natural também temos recebido críticas construtivas preciosas que de certa forma ajudam-nos a perceber o que somos e para onde estamos a ir e isso é bastante importante. O elemento Internet tem sido crucial para a divulgação da nossa música e o MySpace revela a sua utilidade para bandas nacionais poderem mostrar o trabalho que têm vindo a desenvolver. O MySpace é no fundo uma grande montra e onde dou por mim a encontrar projectos muito interessantes e com muito valor. Temos perfeita noção que quando começamos a trabalhar nas músicas não foi com ideia de fazer… algo… foi mesmo por necessidade de fazer o quer que fosse.
DA: Estavam à espera deste reconhecimento e aptidão ao público?
BV: Para ser sincero tentamos não pensar muito nisso. O processo criativo foi sempre feito de uma forma egocêntrica e virada apenas para aquilo que nos soava bem. Só começamos a pensar nisso quando nos confrontamos pela primeira vez com um público… e mesmo assim acho que foi a primeira vez que não tive o nervoso característico antes de subir ao palco porque sabia que mais do que qualquer outra coisa, ia-me divertir bastante com o Jorge, com o Zé e com o Gonçalo. Felizmente o público quis-se juntar à festa!
DA: Agradeces ao MySpace?
BV: Não só mas também. A oportunidade de ir tocar aos sítios e mostrar o nosso som ao vivo para um público são fruto da aposta dos espaços em nova música e isso é de louvar.
DA: Os The Guys From The Caravan têm um flavour especial, diferente nas suas actuações ao vivo. É espontâneo? Como é que a banda prepara este ambiente western?
BV: No concerto ao vivo temos o auditório, ou o público, que torna a música completamente diferente. Podemos apanhar um público participativo o que torna a música muito mais explosiva e animada, mas também podemos apanhar (como já aconteceu) encontrar um público frio ou distante e ai a actuação torna-se muito mais impessoal… Por muito que se queira, esta relação influência muito a performance por muito profissional ou não que se seja, a banda está ali por causa do público e vice-versa. Ainda que seja uma visão interessante, não acho que se trate de um ambiente Western que queremos transmitir. Nós temos poucos ensaios e temos usado as actuações para ensaiar e o dia da actuação para ver coisas novas. Temos alguns elementos cénicos, se assim se pode chamar, mas é mais para nosso conforto do que pelo efeito visual.
DA: O que sente a banda ao subir o palco? De que falam e o que pensam no backstage (quando existe…)?
BV: "- Quem é que ficou com o meu copo?!?
- Vamos lá?
- Vamos."
DA: Pelo que pude constatar, dão destaque no vosso MySpace a temas como Adam, The Guy From The Caravan, Just Kiss Me e The Breaking Point. Qual destes pode servir aos visitantes de “cartão-de-visita”?
BV: O tema The Guy from the Caravan tem tido receptividade e será um bom cartão de visita. Mais que não seja porque é o tema que deu nome ao projecto.
DA: Um dos aspectos que leva a ouvir a vossa música são as letras. Com que estórias gostam preencher as vossas letras? Verifica-se em certas faixas a abordagem ao amor…
BV: Nós falamos muito de amor porque é um tema que é inesgotável e têm as mais variadas facetas. Eu posso amar uma mulher, um homem, um filho, um cão, um par de sapatos, uma cidade, um açucareiro, uma música… enfim, e o amor não tem que ser necessariamente tratado ponto de vista romântico, pode ser doentio, optimista, kitsch, obsessivo, ordinário, naive, pervertido, etc… Podemos não falar directamente nele, mas está lá sempre. Nós lidamos com sentimentos diariamente e falamos muito disso e de situações vivemos no quotidiano. Temos tido também o contributo de dois amigos nossos com histórias muito interessantes: José Nuno e o Rui.
DA: No YouTube publicaram recentemente um vídeo de um novo tema, Worms In My Head. Temos novo single?
BV: É um tema que gostamos bastante de tocar. Um amigo nosso gravou e decidiu colocar no YouTube. Pareceu-nos boa ideia, gostamos de partilhar bons momentos!
DA: Voltando ao assunto dos registos, como podem os apreciadores da vossa música adquirir a vossa Demo, e, futuramente, o vosso àlbum?
BV: A demo, como já foi dito anteriormente, vai poder ser adquirido no site da Rasarte. Mas fiquem atentos ao nosso blog do MySpace que será dos primeiros sítios onde irão aparecer novidades, nomeadamente o link para “sacar” a demo.
DA: Como atentos e ávidos consumidores de música (como suponho que sejam), que lançamentos actuais vos despertam maior interesse (tanto no espectro nacional como internacional)?
BV: Sim, por natureza ouvimos bastante música e bastante diversificada. Pessoalmente ando a ouvir bastante bandas como The National, Feist, Arcade Fire, Joan as a Police Woman, Andrew Bird, Tom Waits, Magnetic Fields… só para falar de alguns internacionais. Ao nível nacional temos projectos como X-Wife, Wraygunn, The Vicous Five, Micro Audio Waves, entre outros… mostram bem que em Portugal faz-se música com qualidade e com uma grande dose de novidade. Umas das referências que temos em semelhante dentro da banda são Jeff Buckley e Joan as a Police Woman, grandes compositores e grandes vozes.
DA: Como foi a experiência de participar num evento como o tmn Garage Sessions, este ano? Estavam à espera de chegar à final e actuar com os Wraygunn (juntamente com as outras bandas finalistas)?
BV: A experiência foi boa pois tivemos hipótese de divulgar o projecto. Podia ter corrido melhor na final, mas por um lado, chegamos à conclusão que não foi assim tão mau. Já tínhamos tudo combinado para a gravação do nosso álbum e o prémio do primeiro lugar era precisamente gravar o álbum… acho que ficamos tristes mas foi só naquele momento. No dia seguinte já não pensamos nisso. Tivemos boas críticas na noite da final e isso foi mais do que suficiente. Os Wraygunn ensinam qualquer banda que está nos primeiros passos a ter uma boa atitude em palco. Muito energéticos e muito bons músicos. Poder ver de perto é sempre uma aprendizagem.
DA: São responsáveis por danos intestinais por parte dos cidadãos que, eventualmente, tentem cozinhar a receita das verdadeiras pataniscas de bacalhau disponível no vosso MySpace?
BV: Nós já andávamos um pouco apoquentados com o que se andava a fazer por aí com receitas pouco convincentes da verdadeira patanisca tradicional…[risos] quisemos tomar um posição e divulgar a genuína e contribuir para a tradição gastronómica… na verdade… não tinha nada para fazer e deu-me para aparvalhar. Estava aborrecido.
DA: Mudando de assunto: como vítimas de tal, como descrevem a situação actual (por um lado boa, por outro má) do panorama musical português?
BV: Acho que nunca esteve tão bom. Há bandas nacionais muito interessantes a surgir. O problema é não haver editoras e não haver dinheiro para que os criativos possam dedicar mais! Mas novos caminhos se desenham para se poder subsistir e aguentar a fazer música.
DA: Para concluir, o que diriam a quem pegasse no vosso CD e o colocasse pela primeira vez na aparelhagem?
BV: Põe mais alto.
DA: Bem, chegámos ao fim. Agora só tenho a agradecer imenso a tua (vossa) colaboração e paciência para esta entrevista. Obrigado e até breve!
BV: Nós é que agradecemos a oportunidade de falar acerca dos The Guys From the Caravan e da visibilidade que nos têm dado desde o início no 13ªarte!