1.6.07

News: Andrew Bird em Lisboa: Fotos

A sala de concertos do cinema São Jorge esgotou, ontem à noite, para aplaudir o regresso do norte-americano Andrew Bird a Lisboa. O primeiro concerto foi há dois anos, no Lux, e desde então bastantes coisas aconteceram à música do cantor e violinista; em primeiro lugar, e sobretudo graças ao belíssimo The Mysterious Production of Eggs , a sua obra tornou-se mais conhecida. A afluência de público ao espectáculo da noite passada, que Bird agradeceu com um esforçado «Nós adoramos Portugal», é prova da sua crescente popularidade entre nós.


Outra grande diferença passa pela formação que ontem o acompanhou. No Lux, o autor de «Dark Matter» apresentara-se sozinho, tocando e samplando vários instrumentos, num espectáculo surpreendente. Desta feita, trouxe um guitarrista e Martin Dosh, um faz-tudo (baterista, teclista, compositor) a quem coube realizar a mini-abertura da noite. Apesar da companhia, Bird tem muito com que se entreter, em palco – desde tocar violino, guitarra eléctrica e xilofone, até soltar o mais mavioso assobio da pop actual e, claro está, cantar. A construção de todos estes alicerces (Bird vai produzindo pequenas sequências de sons e repetindo-as, com a ajuda dos pedais indicados, ao longo dos temas) leva o seu tempo, e fez com que o espectáculo fosse, a espaços, mais cerebral do que emotivo.


Andrew Bird já avisara que, ao vivo, lhe interessa conferir às músicas que em disco se apresentam redondas e apetecíveis uma dimensão mais experimental. O público ou ia avisado ou teve paciência, apoiando todas as jigajogas do músico, que parece construir cada canção com a perícia e o apuro de quem trabalha numa oficina ou num laboratório.Como um maestro nervoso, de fato e gravata mas sem sapatos (tal como acontecera já no Lux), Andrew Bird começou o concerto com «Imitosis», do mais recente Armchair Apocrypha . O ritmo quase latino levou parte do público a tentar acompanhar com palmas, mas depressa a audiência se aperceberia que a concisão pop dos dois últimos discos é, ao vivo, sacrificada por construções um tudo-nada mais planantes e labirínticas.


Este apreciável trabalho de reconstrução não impediu grandes temas como «Fiery Crash», «Measuring Cups», «A Nervous Tic Motion of the Head to the Left» ou «Plasticities» de soarem muitíssimo bem. Andrew Bird pode ser mais músico do que performer, mas quando ficou sozinho em palco com o violino, para interpretar o mais antigo «Why?», de 2001, mostrou-se capaz de significativa sensualidade e teatralidade, encenando um diálogo duplo – na letra da canção e no violino, que dedilhava e samplava.Tanto aqui como em alguns temas em que a bateria se revelou demasiado grandiloquente para a subtileza das composições, ficou a sensação de que Bird não teria, de todo, feito pior figura se tivesse actuado "a solo".



Noutros momentos, como em «Heretics», óptima cantilena do novo disco, optou por «turn up the rock», o que também não lhe fez mal nenhum e teria resultado ainda melhor caso não estivéssemos numa sala com cadeiras. «Scythian Empires» e «Weather Systems», do trabalho homónimo de 2003, encerraram com prolongado romantismo o concerto. Deliciado, o público pediu novo encore, mas ao fim de quase duas horas de concerto o artista optou por retirar-se, na certeza de que o carinho que diz sentir por Portugal é inteiramente correspondido. Esta noite, Bird dá o terceiro e último concerto no nosso país, no Theatro Circo de Braga.

Aqui fica um vídeo da actuação gravado por um fã:


(Fotos de Espanta Espíritos, texto de Lia Pereira)

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