4.7.07

SBSR | Finalmente Arcade Fire!

Os Arcade Fire foram sem dúvida e merecidamente a banda mais aguardada deste primeiro dia do Act 2, e as fotos mostram isso mesmo. Apesar de não ter passado tanto tempo assim desde a sua estreia em Paredes de Coura (2005), o desejo de ver o grupo que é considerado uma das melhores bandas do mundo actuais - por público e outros músicos - e cujo sucesso na altura começava ainda a ser adivinhado e conjecturado, é quase tanto como se de uma estreia ou de um longo interregno se tratasse.

E tudo se conjuga numa osmose, que combina ecos da fama do colectivo ao vivo cá e lá fora, e sobretudo reconhecimento pela qualidade da sua música e admiração pelos seus executantes - um todo envolto numa áurea de reverência e quase sacralização, perto de abalar um ateu convicto.

O estado sublime a que as composições são elevadas, sustentadas pela grandesa da banda ao vivo - todos os elementos tocam vários instrumentos, trocando as posições -, traduz-se em momentos de rara beleza, que perpassam uniformemente ao longo da actuação, independemente da energia rítmica de cada uma das canções. Com um cenário a condizer - pano vermelho de fundo, orgão de tubos, e pequenos ecrãs circulares - os músicos encheram o palco, tanto em número como em interpretação.


'Black Mirror' foi a canção escolhida para dar um início à actuação, onde à voz de Win Butler (e não só) se juntou frequentemente o brilho de Régine Chassagne e de Sarah Neufeld (no violino), com vestidos de cetim a realçar todo o ambiente grandioso do pop-rock dos Arcade Fire, com a sua "délicatesse" de reminiscências clássicas.


E se a entrada foi mais ou menos sóbria, não nos esqueçamos que esta é uma liturgia em néon, como o nome do segundo disco da banda canadiana, "Neon Bible". Por isso, os tons multicolores começaram a ganhar a forma logo de seguida com 'No Cars Go', prosseguindo com a fresca e tropical 'Haiti', e 'Antichrist Television Blues' a culminar na poderosa 'Intervention', aqui com uma entrada um pouco mais despojada que a da versão original. Também num formato simples, com a guitarra, o baixo e a bateria em destaque, Win Butler reproduziu o slow ondulante 'Ocean's Noise', um dos mais belos temas de "Neon Bible".


A energia e vivacidade retomariam em surpresa com o regresso a "Funeral", o primeiro disco, através de 'Neighberhood#1. De resto, a música serviu de deixa para Win Butler brincar e contar que no bairro onde vive, em Montreal, já o fez sentir como «na faixa de Gaza», isto durante a final do Euro 2004, uma vez que a zona fica entre um bairro de portugueses e outro de gregos. Os coros prolongados da assistência depois das músicas já terem acabado também levaram o cantor a sugerir que os presentes se mudassem para o palco, elogiando o seu «fantástico» apoio. A festa prosseguiu na vizinhança, ainda em "Funeral", por 'Neighberhood#3' e 'Rebellion (Lies)' a culminar em êxtase colectivo.


'Keep the Car Running' deu a saída em apoteose deixando apetecível a espera por um encore bem recheado de mais uns quantos temas que saciassem o espírito. Mas no regresso houve apenas direito a mais uma. 'Wake Up' fechou com chave de ouro um concerto grandioso.


Das guitarras eléctricas e acústicas ao bandolim, passando pela percussão, teclas, acordeão e instrumentos de sopro, os Arcade Fire criam música num território fértil em inovação, reinvenção, perfeição técnica e beleza. E como diria o locutor da BBC, Zane Lowe, a propósito de um dos temas do grupo, «se isso não [nos] toca de forma especial», é-se digno de pena.



Acompanhe os restantes dias deste festival no Especial SBSR, do 13ª Arte.

(Texto de Ana Tomás)

1 comentário:

Sonita disse...

Palavras sábias as do locutor da BBC... Para mim, a melhor banda de todos os tempos! :)
By the way, muito bom o comentário!